20/12/2007

Vitivinicultores se unem para promover vinho brasileiro no mercado externo

O Brasil exportou cerca de US$ 2,6 milhões de vinhos de janeiro a setembro de 2007. No mesmo período do ano passado, vendeu ao exterior quase US$ 2,2 milhões. Durante todo o ano de 2006, embarcamos para outros países US$ 3,2 milhões, sendo US$ 677 mil (20%) para os Estados Unidos, o maior comprador da produção brasileira. Este ano, nos nove meses primeiros, 30,92% do volume produzido pelas vinícolas do projeto Wines From Brazil (WFB) foi enviado para o mercado norte-americano. A Europa fica em primeiro lugar, quando analisamos blocos econômicos, com cerca de 50% das exportações brasileiras. Os dados são do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do WFB.

O projeto setorial Wines From Brazil é responsável por 68% das exportações do primeiro semestre de 2007, quase US$ 1 milhão. No ano passado, respondeu por metade dos vinhos brasileiros exportados. O projeto foi criado em 2002, como um consórcio entre seis produtores ligados à Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Em 2004, a sua coordenação passou a ser feita pelo Instituto Brasileiro de Vinhos (Ibravin), que fechou parceria com a Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), para ajudar na divulgação do projeto no exterior.

De acordo com o gestor do Wines pela Apex, Marcos Soares, nos projetos setoriais, a agência aloca até 50% dos recursos financeiros de cada projeto, acompanha a execução das ações promocionais e avalia se o projeto está atendendo aos resultados previstos. Pode ainda apoiar tecnicamente com informações sobre os principais mercados de destino das exportações e nas discussões sobre estratégias de acesso e consolidação de mercados, sugerindo atividades e ações promocionais mais adequadas para cada caso.

Ele afirma, ainda que, para o setor como um todo, o principal desafio ou obstáculo para o aumento das exportações é o desconhecimento no exterior de que, primeiro, o Brasil produz vinhos, e segundo, vinhos de boa qualidade. “Assim, tornam-se necessárias ações integradas de divulgação e promoção dos vinhos brasileiros no exterior. O projeto em questão apóia a elaboração de diferentes materiais de divulgação nos idiomas dos principais países importadores; a participação das empresas nas principais feiras internacionais; ações de degustação de vinhos brasileiros no exterior; e a vinda de importadores e formadores de opinião para participarem de eventos do setor no Brasil.”

Na opinião do gestor, para as empresas individualmente, o principal desafio é a falta de experiência no mercado internacional. A grande maioria das empresas está começando o processo agora e, portanto, tem várias necessidades, tais como: profissionais para participarem dos eventos internacionais e iniciarem as negociações; limitado conhecimento das condições específicas de exportação por país; falta de representantes comerciais nos países importadores e outras.

Essa fase da iniciativa se encerrou em setembro de 2007. A Ibravin já apresentou, para a Apex-Brasil, proposta de renovação do convênio para o biênio 2008/2009. A expectativa é de crescimento. “As empresas participantes do projeto esperam de duplicar o valor das exportações no período de execução do novo projeto, com uma meta US$ 4 milhões ao final de 2009”, explica Marcos Soares.

E os produtores têm razão para acreditar num futuro próspero. De 2002 a 2006, o grupo de vinícolas do WFB cresceu 183%. Atualmente, 20 vinicultores fazem parte da iniciativa. Do total de produtores, 80% exportam para 20 países. Também conseguiram preço melhor pelo litro de vinho, que cresceu 60% nos últimos cinco anos. O valor médio por litro do grupo foi 66% superior ao da média nacional, no ano passado, e 47% neste ano. “O foco do WFB é para vinhos finos, com maior valor agregado. Assim, o preço médio por unidade exportada das empresas é substancialmente mais elevado do que a média de exportação do setor”, esclarece Marcos Soares.

Ainda querem, este ano, incorporar cinco novas vinícolas e ampliar a participação de empresas de outros estados brasileiros. Sensibilizações têm sido feitas em Santa Catarina e no Vale do São Francisco. Para a gerente de Promoção Comercial do WFB, Andréia Gentilini Milan, “individualmente, nenhuma dessas empresas teriam alcançado esses resultados sozinhas”.

Segunda fase – Marcos Soares, da Apex, conta que a próxima etapa do Wines from Brazil tem como mercados prioritários a Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e República Tcheca. Além disso, foram indicados a abertura de novos mercados como Suécia, Finlândia, China e Cingapura. “As ações do projeto e os mercados prioritários são definidos em consenso pelo grupo de empresas exportadoras ou potenciais exportadoras que participam do projeto.”

Empresas - A Miolo Wine Group integra o grupo WFB. Anualmente, produz 6 milhões de garrafas de vinho entre as cinco unidades que tem no Brasil, quatro na região Sul e uma no Vale do São Francisco. Deste total, 600 mil garrafas (10%) são exportadas. A meta é crescer. Em 2012, esperam dobrar a produção de garrafas, sendo que 40% serão destinados a mercados internacionais. “Estamos focados nos vinhos de alta qualidade, pois são os produtos com os quais temos maior competitividade. O Brasil se destaca pela qualidade superior de seus vinhos”, afirma Carlos Nogueira, diretor de Relações Internacionais da Miolo.

De acordo com Nogueira, a vinícola está investindo na exportação da marca, e não apenas do produto. “No exterior, vendemos principalmente para restaurantes e bares, onde podemos construir uma marca. A nossa intenção no processo de exportação de vinho é a internacionalização da marca Miolo.”

A empresa é uma das que apostaram no projeto setorial em 2002 e se inseriu no mercado internacional a partir daí. “Nós participamos de eventos, por meio do WFB, que sozinhos não teríamos condições. Nem se quer exportaria o volume atual e teríamos as projeções de crescimento que temos, pois as ações de promoção e abertura de mercado são muito onerosas para as empresas de pequeno e médio porte”, afirma o diretor da empresa.

A vinícola Boscatto, localizada no município de Nova Pádua (RS), tem capacidade anual de produção de 550 mil litros, mas hoje só produz 400 mil, mas ou menos 380 mil garrafas. O Brasil ainda é o seu maior mercado, apesar de ter exportado pequenas quantidades para os Estados Unidos e República Tcheca. No entanto, quer conquistar mais consumidores em outros países e aumentar o volume de exportação. Por isso, segundo o presidente da vinícola, Clóvis Boscatto, se vinculou ao WFB este ano. “Cerca de 1% da nossa produção vai para os Estados Unidos. Para a República Tcheca exportamos mais de 23 vezes, sempre pequenas encomendas”. Depois que entrou no projeto, já participou de exposições no Canadá e Estados Unidos. “Nosso produto tem tido boa aceitação, tem agradado o paladar dos nossos compradores”, comemora.

Estratégias - O consultor e ex-presidente do Ibravin, Carlos Paviani, diz que, hoje, o Brasil exporta 1% do total da sua produção, mas pode chegar a 5% do total. Acredita que o País pode vender para mercados externos 20% da produção de vinhos finos. “O mercado internacional tem condição de absorver muito mais, mas esse é um bom resultado para o Brasil, pois o vinho brasileiro é reconhecido, no exterior como produto diferenciado e exclusivo. Isso agrega mais valor”, pondera. E continua: “Nossa estratégia é consolidar a imagem do Brasil como produtor de qualidade. Pelo menos num primeiro momento, a idéia não é exportar grandes volumes de vinho”.

Contrapartidas - O Ibravin oferece recursos e oportunidades para o projeto se desenvolver, por meio da promoção comercial e antenada às novidades, eventos e seminários. A Apex-Brasil dá suporte logístico e financeiro, cobrindo até 50% dos custos de cada projeto, para as ações. A agência pode ainda apoiar tecnicamente, com informações sobre os mercados de destino e nas estratégias de acesso e consolidação em economias.

Há outros parceiros, entre eles o SEBRAE Nacional e do Rio Grande do Sul. O primeiro apóia ações pontuais, e, portanto, não subscreve o convênio do Wines From Brazil. Em fevereiro de 2007, foi um dos patrocinadores da edição anual da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho Brasil). O SEBRAE/RS ajuda financeiramente para levar empresários para eventos no exterior.

Esses parceiros investiram em torno de R$ 3 milhões nos cinco anos de projeto. Um pouco mais de R$ 1 milhão veio da Apex-Brasil e o restante de empresas, do SEBRAE e do Ibravin, pelo Fundovitis. Paralelamente, os vinicultores destinaram recursos para a atualização tecnológica de suas adegas. “As empresas investiram muito nos últimos 10 anos em tecnologia, em manuseio e no vinhedo. Estavam focadas no mercado interno, mas, então, alcançaram qualidade para competir no mercado externo”, conta Andréia Gentilini.

Os eventos também foram fundamentais na promoção internacional dos vinhos finos brasileiros. Entre as feiras mais importantes, o grupo do WFB já participou da Vinexpo Américas, Vinitaly, Miami IWF, Sial Paris, WSWA, Prowein, Anuga, Vino & Destilaty e London Wine Fair. Esta última é uma das feiras mais importantes do mundo, apesar de não estar entre as maiores. Carlos Paviani explica que a Inglaterra é o segundo mercado comprador de vinho no mundo e é muito exigente. “A London Wine Fair concentra compradores europeus e de outras partes do mundo. Por isso, é muito concorrida. Além disso, quando se consegue entrar nesse mercado, é um sinal de que se pode estar em outros mercados também com mais segurança.”

Há outras estratégias, como a realização de seminários, produção de materiais e anúncios em revistas especializadas – Wine Spectator e Wine Enthusiast – e na feira Dim Export, na França. O WFB criou um banco de imagens e audiovisual em cinco idiomas e fez degustações em vários países – Holanda, Itália, Alemanha, Reino Unido e Finlândia. Além disso, já enviou uma comissão comercial para a China e mantém ações dirigidas para formadores de opiniões – jornalistas, chefs, sommerliers –, compradores de supermercados e demais negociantes. A iniciativa trouxe para o Brasil 24 compradores e 40 jornalistas.

Mercado norte-americano – Os vinicultores do projeto setorial querem incrementar as exportações de vinhos para os Estados Unidos, o maior importador de vinhos brasileiros. Por isso, organizou o seminário “Os desafios da exportação de vinhos para o mercado americano”, que aconteceu dia 30 de outubro, em Bento Gonçalves (RS). O evento integra o plano de ações do WFB. Nove empresas do grupo já exportam para os Estados Unidos, sendo elas: Cooperativa Vinícola Aurora, Miolo Wine Group, Vinícola Boutique Lídio Carraro, Sociedade de Bebidas Mioranza, Vinhos Marson, Champagne Georges Aubert, Vinhos Salton, Sulvin Indústria e Comércio de Vinhos e Pizzato Vinhas & Vinhos.

De acordo com Andréia Gentilini, as churrascarias brasileiras têm sido um grande canal para o vinho brasileiro. “Existem mais de 200 churrascarias brasileiras espalhadas pelo território americano. Têm um conceito de restaurante sofisticado e, portanto, com demanda de vinhos de alto valor agregado. É um dos destinos em que as empresas conseguem os maiores preços médios por litro”, afirma.

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