20/12/2007

Novas tendências turísticas valorizam a experiência individual das pessoas

Já imaginou arregaçar as mangas para fazer o pão de vinho que comerá sob orientação do chef de um charmoso café? Já pensou em colher cachos de uva no meio de parreirais? Ou, então, degustar vinho de olhos vendados e compartilhar as sensações e as lembranças que a experiência lhe faz sentir? Tudo isso é possível na Serra Gaúcha, por meio de roteiros turísticos inovadores. Desde o ano passado, os turistas podem encontrar, na região, atrações como essas, que promovem interação dos visitantes com a história e cultura local e com a rotina de seus moradores.

Esses passeios turísticos estão baseados no conceito de economia da experiência e de sociedade do sonho. O objetivo é fazer com que os turistas troquem experiências e vivenciem momentos marcantes em suas férias. A estratégia é inovar a oferta turística, deixando de oferecer apenas o produto. O diferencial é trabalhar o imaginário, os desejos e emoções dessas pessoas. Os turistas são protagonistas nesta nova realidade.

O Ministério do Turismo (MTur), o Sebrae e o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região Uvas e Vinho (SHRBS Região Uva e Vinho) idealizaram o Projeto Economia da Experiência – Vivências na Região Uvas e Vinho. A iniciativa é pioneira no Brasil e inaugura essa nova visão econômica no País. “O projeto rompe com a forma tradicional de se fazer as coisas, que é racional, e valoriza o lado emocional. Com isso, promovemos experiências únicas e vivências memoráveis, por meio dos produtos”, explica a diretora executiva SHRBS Região Uva e Vinho, Márcia Ferronato.

O projeto aproxima e integra diversos setores da economia ligados ao turismo. Atualmente, 72 negócios participam da proposta, entre adegas, vitinícolas, agências de turismo, hotéis e restaurantes. Esses empresários aceitaram o desafio de criar atividades que valorizassem a vivência emocional do seu cliente e permitissem que também fosse mais participativo nas atrações. Tudo isso foi casado com os passeios tradicionais na região, como a Maria Fumaça. A meta é somar e diversificar o turismo local.

Inovação – A região da Serra Gaúcha foi eleita para implementar o projeto-piloto em função da sua ampla e bem montada estrutura turística. Apenas oito municípios participam do Projeto Economia da Experiência, que iniciou em maio de 2006. São eles: Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Nova Prata, Veranópolis, Cotiporã, Vila Flores e Protásio Alves.

A implantação do projeto foi dividida em etapas. A primeira fase terminou em fevereiro de 2007 e foi um período de adaptação dos empreendimentos que aderiram à proposta. O segundo momento estará focado na ampliação da rede de participantes e na divulgação e comercialização dos produtos vinculados à Economia da Experiência.

Agora, com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre o MTur, o Sebrae e a Embratur replicará o modelo em mais quatro pólos turísticos brasileiros – que ainda serão selecionados – e implementará a segunda fase no Sul do Brasil. “O Projeto Economia da Experiência é uma das macro-ações previstas neste acordo, fechado em setembro de 2007. Disseminaremos essa experiência inovadora em outras regiões brasileiras. A iniciativa será mais uma estratégia para fortalecer o turismo nesses pólos”, ressalta Valéria Barros, coordenadora de Projetos do Sebrae/Nacional.

Márcia Ferronato destaca que o projeto oxigenou os negócios. “O projeto despertou a criatividade dos empresários. Criou-se, com isso, formas diferenciadas de comercializar os produtos e serviços da região.” A diretora conta ainda que foi realizada uma pesquisa com os visitantes dos negócios conveniados. De acordo com o levantamento, 69% dos entrevistados indicaram a originalidade e o contato direto com os membros da comunidade local como os principais fatores positivos da iniciativa.

Aprimoramento – As expectativas são de que os resultados da aplicação do projeto nas outras regiões brasileiras sejam tão positivas quanto no Sul do Brasil. O empresário Wander Valduga, de Bento Gonçalves, diz que os lucros duplicaram após a adesão da família ao projeto. “Considerando os ganhos da nossa vitivinícola e do café, mais as visitas de turistas por meio do projeto, o nosso lucro dobrou”, comemora o empreendedor. “Também ganhamos na nossa maneira de pensar. Já temos novos investimentos previstos com base nessa proposta”, complementa.

Wander é, com outros membros da família, dono da vitivinícola e do café Vallontano. A adega foi fundada em 1999, pela quarta geração de descendentes de imigrantes italianos. O café foi criado recentemente. A tradição da cultura da uva veio com os bisavós, mas a idéia de produzir vinho em escala maior só veio depois. A adega familiar produz 50 mil garrafas anualmente, das quais 80% é vendida para a Mistral Importadora.

De acordo com o produtor, na sua vitivinícola os turistas conhecem a história do vinho e também de sua família, similar a de muitos outros imigrantes que chegaram à região e introduziram a cultura da uva e a produção do vinho. “Nosso passeio foge da visita tradicional, do simples foco no lado técnico do vinho. Contamos a história do vinho na região por meio da nossa experiência familiar. Isso aproxima os visitantes da gente e ainda dá maior realidade para o que está sendo contado”, avalia Valduga.

Pacotes – As agências de turismo criaram pacotes mesclando os passeios tradicionais com os inovadores. Com isso, os visitantes conhecem todas as atrações turísticas da Serra Gaúcha e ainda participa de experiências inusitadas durante o roteiro. Essas rotas foram sugeridas pela coordenação do projeto, que também contribuiu para que os empresários inovassem os seus produtos e serviços com base no conceito de sociedade do sonho. No entanto, os empreendedores ultrapassaram as expectativas e criaram várias atividades de entretenimento, nas quais o turista é o protagonista, não previstas inicialmente.

A agência Opzionne Turismo se interessou pela proposta e montou roteiros diferenciados, incluindo passeios formulados com base na economia da experiência. Também criaram trajetos especializados para públicos-alvos diferentes. O preço médio de um pacote de sete dias é de R$ 500. Está incluso a visitação de vários municípios, transporte, ingressos, taxas de visita, curso de degustação, almoços e guia credenciado no MTur.

Segundo a diretora da empresa, Cristina Giordani Valente, uma atração especial para crianças e adolescentes foi desenvolvida, a LimoKomb. “O forte da região é o enoturismo e não havia muitas opções para os adolescentes. Então, criamos a Limokomb para apresentar para a garotada a cultura local e ter contato com a natureza. Neste roteiro, visitamos o sítio Tedesco, Villa D’Asolo, onde a meninada conhece animais, fontes d’água e parques ecológicos.”

As atrações também valorizam as heranças culturais dos italianos e alemães. Os turistas poderão desfrutar de um charmoso vinho local e de um prato típico, ao som de um coral. Além disso, há espaços onde as pessoas podem ter mais contato com a flora da região. Há também produtos específicos para públicos especializados, como massagens terapêuticas num balneário de águas termais. Ainda é possível personalizar as garrafas de vinhos, imprimindo a digital e a assinatura dos visitantes no rótulo.

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