20/12/2007

Enoturismo fortalece a cultura do vinho e diversifica a economia do Vale do São Francisco

O crescimento do setor vitivinícola no Submédio do Vale do São Francisco fez com que produtores, governos federal, de Pernambuco e da Bahia, e instituições como Sebrae decidissem diversificar e investir no enoturismo. Há quatro anos, criaram o Roteiro do Vinho do Vale do São Francisco. A estratégia foi definitiva para ajudar a consolidar, no Brasil e no exterior, a região como importante produtor de vinho.

O Vale se destaca pela produção e exportação de frutas, além de plantações de verduras, hortaliça e cana-de-açúcar. Os produtores dali plantam o equivalente a 1 milhão de toneladas/ano, de acordo com a Associação dos Produtores Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport). Essa quantidade é garantida pela agricultura irrigada, que transformou a paisagem daquela região.

O Submédio São Francisco possui uma área de mais de 260 mil hectares irrigáveis. O cultivo de uva de mesa e fina abrange algo em torno de 12 mil hectares, dos quais cerca 800 hectares de uvas são usadas na fabricação de vinho. Anualmente, sete vitivinícolas processam 8 milhões de litros de vinhos com uvas plantadas no Vale. Isso representa de 15% a 20% da produção nacional de vinho. Um faturamento de cerca de R$ 60 milhões.

Turismo – O Roteiro do Vinho percorre oito municípios do Submédio, produtores de uva e vinho. São as pernambucanas Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e Orocó, e as baianas Juazeiro, Sobradinho, Curaçá e Casa Nova. O número de visitantes na região quase duplicou após a implementação do projeto. Passou de 2,5 mil para 4 mil pessoas por mês.

Para chegar aos 4 mil enoturistas por mês, foram investidos mais de R$ 3 milhões em infra-estutura, capacitação dos produtores e mão-de-obra, criação do roteiro e divulgação. Os recursos foram repassados pelo Ministério da Integração Nacional para as prefeituras da Região Integrada de Desenvolvimento do Pólo Petrolina/Juazeiro (Ride). Entre as obras, estão a ampliação do aeroporto de Petrolina, com capacidade de receber 150 mil passageiros, e a melhoria das estradas que ligam a região ao resto do País.

O Submédio São Francisco permite que os visitantes desfrutem tanto do enoturismo quanto do turismo náutico, técnico-científico, cultural e de negócios. O gerente de projetos do Sebrae/PE, Helder Gomes, explica que há vários passeios e atividades interessantes na região. “O roteiro consiste na visita a fazendas e vinícolas; da Barragem do Sobradinho, o maior lago artificial do mundo; da Codevasf e da Embrapa Semi-árido, para conhecer a tecnologia da agricultura de irrigação; e claro, passeios de barco no Rio São Francisco”, enumera.

A região atrai não só grupos nacionais e internacionais de vitivinicultores. Grandes redes hoteleiras têm estudado investir no Vale do São Francisco. Este ano, dois hotéis foram inaugurados na região e mais dois flats estão sendo construídos na orla de Petrolina. A rede francesa Accor Hotels também sinaliza com a possibilidade de construir uma unidade da rede Ibis na Ride. “Isso é uma demonstração que há demanda turística na região”, reafirma Helder Gomes.

A cidade pernambucana de Lagoa Grande é a maior produtora de vinhos do Vale, com quatro vitivinícolas. É lá também que os turistas encontrarão algumas das principais atrações da rota. Quem visitar o município poderá conhecer a enoteca, em fase de construção.

A gastronomia regional será forte aliada do enoturismo. Um cardápio especial foi elaborado para que turistas apreciem o vinho típico do Vale e conheçam a culinária sertaneja, famosa por servir caprinos e ovinos. Um dos pratos mais requisitados é o bode ao vinho. Segundo o gerente de projetos, “o diferencial é o tempero utilizado na cozinha sertaneja, somado com o charme do vinho.”

História – A primeira iniciativa de produção de vinho no Vale do São Francisco surgiu nos anos 1980, aproveitando as pesquisas de agricultura irrigada naquela região e as condições climáticas. Desde então, o setor se fortaleceu nos últimos anos, tornando-se a única região no mundo com capacidade de produção diária de uvas e vinhos. “O vinho do São Francisco embute muita pesquisa e experimentação, pois é o único trópico seco do mundo. É, por isso, uma região única na produção de vinhos e tem terroir característico”, explica o presidente da Valexport, José Gualberto de Freitas Almeida.

José Gualberto é o presidente da Vinícola do Vale do São Francisco, primeira vitivinícola da região, criada em 1984. Então, um grupo metalúrgico, em convênio com a Maison Florestie, queria produzir vinhos com uvas californianas. A idéia de plantar uvas no Vale foi fortalecida pela aposta na agricultura irrigada e porque as uvas não se adaptaram bem ao solo e clima do sul brasileiro.

A decisão foi mais que acertada e alicerçou as bases do novo setor na região. “A produção de vinho tem característica única: é uma agroindústria viável em pequena escala. Um produtor consegue sobreviver no mercado com apenas 10 hectares. O vinho também tem charme e uma sinergia forte com a culinária e o turismo contemplativo. Tudo isso é muito importante para o Vale do São Francisco”, explica José Gualberto.

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