03/10/2007

Petrobras apóia projeto de inclusão digital no Recife

Na favela do Vietnã, resultado de uma invasão de terras no Recife na década de 1960, os chefes de família têm renda inferior a um salário mínimo, as condições de infra-estrutura são precárias e o acesso a serviços de saúde e educação é limitado. Há três anos a Petrobras financia o Projeto Telecentro de Inclusão Digital (TID) da comunidade, que fica ao lado da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Cerca de 160 crianças e adolescentes freqüentam o local diariamente, de segunda a sábado. Lá, além das aulas de informática, têm contato com cursos de artes, oficinas de teatro, atendimento psicológico e telecurso.

A inclusão digital é uma política pública de capacitação desses brasileiros, de forma a inseri-los na sociedade da informação como cidadãos plenos. O laboratório do Telecentro – uma expansão do Casa Brasil, projeto interministerial do Governo Federal que conta também com o apoio da Rede de Informação para o Terceiro Setor (Rits) – foi equipado por computadores doados pela Petrobras. A empresa ajuda, ainda, na manutenção.

O TID tem caráter multifacetado, pois agrega diversas atividades culturais e educacionais. Além dos cursos de computação, há outras iniciativas ocupando o espaço do Telecentro da favela do Vietnã. São projetos como o Atos, pelo qual psicólogas atendem crianças vítimas de abuso sexual e violência doméstica, e que têm outros parceiros e apoiadores, como a Chesf.

A responsável pelos projetos é Amparo Araújo, 57 anos, engajada na luta pela cidadania desde a década de 1970. Ela coordena, em Pernambuco, desde 1986, o Movimento Tortura Nunca Mais, de defesa dos direitos humanos, criado para esclarecer as mortes e desaparecimentos de pessoas durante a Ditadura Militar. Há 9 anos passou a trabalhar também pela inclusão digital. “Lutamos por um Brasil digno e justo, com igualdade e qualidade de vida. Por isso, trabalhamos com adolescentes a prevenção da violência e a cultura da paz”, ressalta Amparo.

Além de aulas de computação básica, os alunos e a comunidade podem acessar a internet banda larga. No espaço há também a Biblioteca Ariano Suassuna, na qual os usuários fazem pesquisas escolares.

Alfabetização Digital – O Telecentro utiliza softwares livres desde 2000. Com isso, os alunos já são alfabetizados digitalmente em programas não-proprietários. “Começamos a usar software livre quando não havia quase ninguém no Brasil que soubesse utilizar. Somos praticamente autodidatas”, conta Amparo.

Para Isaac dos Santos Chagas, 12 anos, as aulas do Telecentro podem garantir um futuro com mais oportunidades. “Eu acho que este curso vai me ajudar a encontrar um bom emprego”, explica o menino, filho de um padeiro e uma cantora evangélica.

Para Gabryene Rayene Garcia da Silva, de 9 anos, o contato com a informática a deixa “muito feliz”. A menina agora sonha em comprar um computador para a família. Ela mora com os pais e a irmã na comunidade Roda de Fogo, próxima à sede da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e vizinha à do Vietnã. O pai é caminhoneiro e a mãe faz entregas.

O próximo passo do projeto é promover oficina de meta-reciclagem. A idéia é fazer com que os alunos de informática conheçam mais a parte interna das máquinas, os hadwares dos computadores. Os monitores serão ex-alunos que participaram de treinamento na unidade pernambucana do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).

Artes – Além do projeto de inclusão digital, 90 jovens entre 17 e 21 anos participam dos cursos de artesanato, grafitagem e artes-cênicas que acontecem no mesmo espaço. Para freqüentar os cursos e receber a bolsa de R$ 50, os alunos devem estar matriculados no ensino médio. Assistentes sociais acompanham a freqüência escolar e as notas. Se a média for baixa, o aluno sai do projeto para se dedicar apenas aos estudos.

José Maurício Faustino Santiago conta que começou a trabalhar aos 15 anos para ajudar a família. Vendeu picolé e trabalhou em uma fábrica de gelo. Trabalhar 40 horas por semana não facilitava a vida na escola e chegou a ficar um ano longe da sala de aula. Hoje, aos 19 anos, está na 8ª série. Com a ajuda de custo do projeto, pode freqüentar a escola e se dedicar ao curso de artes cênicas.

O professor de teatro Alexandre Spain explica que o curso aborda expressões artísticas como teatro, música e dança. Com apenas seis meses de aulas de teatro, os integrantes do elenco montaram uma peça educativa sobre violência doméstica. O espetáculo já foi apresentado nos conselhos tutelares, escolas e no Fórum da Criança e do Adolescente em Camaragibe, na região metropolitana do Recife. Agora, estão ensaiando a peça Vida, que resgatará também a cultura nordestina.

Segundo Spain, os jovens desenvolveram muito a sua veia artística com os ensaios. “Com dois meses de ensaios, a evolução dos meninos está um escândalo”, brinca Alexandre. As aulas acontecem três vezes por semana com duração de quatro horas.

O aluno de artes cênicas Eudes de Lima Oliveira, 17 anos, aprova o curso. “Eu já tinha feito teatro, mas nada comparado com o que aprendemos aqui. Geralmente, ensinam ou teatro ou dança ou música. O professor Alexandre nos ensina tudo: figurino, maquiagem e outras coisas.”

Eudes está matriculado no 3° ano do ensino médio e diz que é um prazer conciliar os estudos com os ensaios. “O ator é como um jogador de futebol, ganha fazendo o que gosta”, confessa.

Ensino a distância – A Chesf cedeu para o Telecentro um dos canais da Dtcom – Soluções em Educação Corporativa à Distância, uma televisão coorporativa via satélite. Por meio deste ponto, a equipe do telecentro promove cursos de ensino à distância, como telesupletivo e gestão de pequenos negócios. As provas são feitas pela internet. Os alunos podem utilizar o laboratório de informática.

O Projeto Atos funciona principalmente em Garanhuns, no Agreste, e em Camaragibe. É financiado pela Fundação para a Infância e Adolescência (FIA). Além do atendimento psicológico, há oficinas de dança, capoeira, percussão e de geração de renda. Há ainda orientação social das famílias, por meio de visitas nas residências, e realização de eventos culturais para a comunidade.

As crianças vítimas de violência doméstica e abuso sexual são encaminhadas para as terapeutas do Atos pelo Conselho Tutelar, Centro de Referência de Assistência Social e por professores. As psicólogas Roseane Maria de Souza Gomes e Rose Massapê e a assistente social Karina Araújo ensinam os professores a reconhecer quando o aluno é vítima desses tipos de agressões.

Nenhum comentário: